Moralidade Desportiva
Vale tudo para ganhar? O que é ou não aceitável moralmente?

A psicologia do Desenvolvimento, ligada ao Desporto, pretende estudar o papel do treinador, professor ou orientador numa melhor orientação moral dos seus atletas/alunos e qual o seu impacto no seu desenvolvimento pessoal e, sendo a prática desportiva uma atividade de eleição para a transmissão destes valores e ensinamentos fundamentais, caberá aos profissionais desta área darem o exemplo através das suas atitudes, formas de pensar e de comunicar, ensinarem os mais novos a agirem da forma correta e promoverem a moral desportiva certa.
Primeiramente é fundamental definir o que é a moral (desportiva): Moral é a diferenciação de intenções, decisões e ações entre aquelas que são distinguidas como próprias e as que são impróprias (dentro do desporto, em qualquer que seja a situação).
Ora, estando a moral logicamente relacionada com características humanas, esta deve ser transmitida desde tenra idade, para que tenhamos uma sociedade mais justa, respeitosa e credível, neste caso, dentro do mundo do desporto. Assim, numa situação em que as questões éticas e morais necessitam de se fazer sentir, como a de um jogo decisivo ou importante, o treinador/professor, apesar de estar a vivenciar as mesmas emoções que os atletas/alunos e de querer o sucesso tanto quanto eles, tem de saber colocar de parte os seus impulsos vitoriosos naturais e incutir os valores mais éticos ao seu atleta, demonstrando que nem tudo é válido para alcançar uma vitória e transmitindo carácter pessoal e respeito pelos seus adversários, pelos seus praticantes e por todos aqueles que, de alguma forma, possuem uma vinculação com o evento desportivo. Por vezes é, naturalmente, difícil para qualquer pessoa ter "cabeça fria" para tomar este tipo de decisões, uma vez que se tem a consciência de que o desfecho de uma competição pode não ser o pretendido caso se siga sempre pelo moralmente correto, algo que se deve por o desporto causar em qualquer indivíduo uma alegria inigualável, nos cenários positivos, e sentimentos explosivos, difíceis de controlar, pela imprevisibilidade e emoção que acarreta. No entanto, por mais pequena que seja a atitude moralmente incorreta, que eventualmente trará uma vantagem àquele que a cometeu, nunca se deve ceder à tentação de a realizar, uma vez que isso vai completamente contra os princípios que o próprio desporto ensina, princípios esses a que se devem recorrer em qualquer que seja a circunstância, no desporto e na vida.
Tome-se o exemplo de um treinador que seja muito impulsivo com árbitros, este, irá sê-lo na bancada, no banco, e em todo o lado, o que irá influenciar os atletas que o rodeiam a agir de forma semelhante, por ser esse o modelo que uma figura de autoridade lhes apresenta enquanto correta para atingir resultados, apesar de não o ser. Essas atitudes irão fazer com que os atletas se tornem mais insubordinados, mal educados e mais nervosos quando praticam desporto. Por outro lado, e servindo de exemplo oposto, quando, por circunstâncias alheias, um treinador de uma equipa é obrigado a retirar um jogador do jogo, não podendo substituí-lo por outro e ficando a jogar com menos um e o treinador da equipa contrária retira, também, um jogador, a fim de igualar o número de intervenientes no campo e tornar a situação o mais justa e equilibrada possível, irá estar a passar para todos os intervenientes no evento desportivo presentes naquele recinto a mensagem de que nem tudo vale para alcançar a vitória e de que existem outros valores, mais importantes ainda, pelos quais devemos lutar e aos quais se deve dar prioridade, como respeito pelo adversário.
O principal problema é que, apesar de o descrito acima ir acontecendo, de forma positiva, no desporto de formação, esta cultura ética desportiva vai-se desvanecendo à medida que os escalões etários aumentam, sendo quase inexistente a partir dos escalões mais avançados, até ao Sénior, em que já existem mais fatores envolvidos no que toca à prática desportiva, como o profissionalismo e ambição de vitória vincadíssima, que comprometem ainda mais o pensamento e ação de acordo com a ética e moral. Nessas alturas, é muito raro ver um atleta a parar o jogo devido a uma queda aparatosa do adversário, por exemplo, e é recorrente o aproveitamento dessas situações para ganhar vantagem em jogo. É cada vez mais normal apanhar ciclistas "dopados", para melhorar as usas performances, e ver faltas de respeito para com os árbitros. Este tipo de situações são difíceis de neutralizar, uma vez que existe muito dinheiro envolvido na prática desportiva, o que incute atitudes menos éticas, por existir o interesse intrínseco a alcançar a vitória "a todo o custo", pela recompensa que se irá receber após o sucesso. Como se ouve muitas vezes: "o desporto cada vez mais se move a dinheiro".

No entanto, e como já citado acima, continuam a existir bastantes atitudes de fair-play mesmo nos desportos profissionais. Exemplo disso mesmo foi o caso decorrido nos passados Jogos Olímpicos de Tóquio, de 2020, no qual, na final da disciplina de Atletismo, Salto em Altura, Mutaz Essa Barshim, do Catar e Gianmarco Tamberi, da Itália, protagonizaram um bonito ato de fair-play, concordando em serem ambos condecorados como campeões olímpicos e com a medalha de ouro, após realizarem a mesma altura, de dois metros e vinte e três centímetros.
É certo que o ideal seria que atitudes deste género, em que o respeito pelo adversário aumente exponencialmente e que o interesse pelo dinheiro e pelas vitórias desocupasse o topo da pirâmide dos interesses desportivos, de forma a que aquilo que começasse a guiar o desporto profissional - e o desporto no seu todo - fosse a ética e o respeito, sobretudo pelos outros, para que se tornasse tudo mais justo e livre de corrupções.
O desporto possui um impacto diferente, é seguido e sentido de uma forma diferente de qualquer outra atividade e deve ser utilizado para transmitir ideias positivas e corretas de como devem ser os nossos comportamentos. De forma a que isso aconteça, as pessoas que estão envolvidas, devem reger-se pela ética e por valores morais bem definidos, com capacidade de gerir as diversas situações que possam acontecer, de modo a que, no final, para além do desporto, também a justiça, a ética e a moral vençam!
No fundo, é necessário repudiar atos deste género...
... e promover e incutir mais ações deste tipo (vídeos acima)!
Bibiografia:
IPDJ (2014). Código de Ética Desportiva, Instituto Português do Desporto e Juventude, I.P.
Moreira, C. & Pestana, G. (2012) Algumas Reflexões Sobre a Ética Desportiva. Revista de Desporto e Saúde da Fundação Técnica e Científica do Desporto, 4(3), 95-101.