Problemática da Adolescência

30-04-2024

O desenvolvimento do ser humano é algo continuo. A vida floresce no momento em que nascemos, em que nos tornamos crianças, atravessa a adolescência, preparando-nos para a idade adulta e para as mais diversas adversidades que nos são colocadas durante o percurso que percorremos na Terra.

A adolescência é um fenómeno comum a todos, sendo de extrema complexidade entender e compreender atitudes e formas de agir de uma pessoa nesta fase da vida por parte dos pais, familiares e amigos.

Entende-se adolescência como o período etário do desenvolvimento humano entre a maturação sexual (puberdade) e a idade adulta. Neste período ocorrem transformações físicas, psicológicas, sociais e comportamentais que poderão alterar, até de forma irreversível, o perfil de um indivíduo.

A adolescência, atualmente, divide-se em pré-adolescência (dos dez aos treze anos) , adolescência (dos treze/catorze aos dezoito anos) e adultos emergentes/jovens adultos (dos dezoito aos vinte e cinco anos).

Posto isto, é fundamental distinguir a adolescência da Puberdade. A Puberdade é um fenómeno característico da adolescência, tendo início no momento em que a adolescência emerge (na grande maioria dos casos).

A Puberdade é o conjunto de alterações biológicas, físicas e emocionais que marca o início da adolescência. Tome-se o exemplo da produção de hormonas sexuais intrínseca a esta fase da vida: no caso de indivíduos do sexo feminino, são produzidas pelos ovários e contribuem para o desenvolvimento dos órgãos reprodutores das adolescentes e para a regulação do ciclo menstrual; já no caso de indivíduos do sexo masculino, são produzidas pelos testículos e promovem o desenvolvimento dos órgãos sexuais. 

Todos os jovens são diferentes, o que implica, naturalmente, que estas mudanças fisiológicas, e não só, não ocorram ao mesmo ritmo nem com a mesma intensidade para pessoas diferentes.

As alterações provocadas a nível físico e psicológico no Homem, durante puberdade, são desencadeadas pelas hormonas, produzidas de forma frenética e em proporções irregulares, nesta etapa do desenvolvimento do ser humano. Estas desenvolvem os caracteres primários e secundários no indivíduo, sendo a hormona mais determinante destes processos a testosterona, nos rapazes, e o estrogénio, nas raparigas.

Um dos problemas que surge durante a puberdade é o "timing" das tais alterações no indivíduo, uma vez que o organismo de cada pessoa funciona de maneira completamente diferentes. Por esse mesmo motivo, estes processos poderão realizar-se tanto de forma tardia, como também de forma precoce, algo que traz, inevitavelmente, consequências para os adolescentes.

Maturação precoce em raparigas

Consequências:

  • problemas com a autoimagem, maior probabilidade de desenvolver depressão, ansiedade, transtornos alimentares e ataques de pânico;
  • atividade sexual precoce;
  • maior probabilidade de desenvolver comportamentos disruptivos;
  • idade psicológica mais avançada, mais maturidade e objetivos melhor definidos.
Maturação tardia em Raparigas

Consequências:

  • ansiedade devido ao "atraso" da puberdade,
  • inseguranças devido ao seu aspeto.
Maturação precoce em Rapazes
Consequências:

  • risco elevado de rebelião e agitação;
  • risco de desenvolvimento de hiperatividade, stress e comportamentos disruptivos. 
Maturação tardia em Rapazes

Consequências:

  • autoestima mais baixa, maior imaturidade acompanhada por uma maior dependência parental;
  • poucas interações socias, maior vergonha e ansiedade social, sendo pouco capazes de se adaptarem a situações menos confortáveis e de maior autonomia (ex: falta de capacidade de tomar a iniciativa ao interagir com um empregado de um restaurante, existindo vergonha e desconforto em falar com pessoas desconhecidas);
  • níveis elevados de curiosidade acompanhados por uma intelectualidade fora do comum;
  • níveis elevados de responsabilidade, cooperação, autocontrolo e sociabilidade.

É fundamental salientar que as características apresentadas acima, para cada situação de maturação irregular, são apenas as mais frequentes nos adolescentes que atravessam esses momentos, não se manifestando, naturalmente, em todos os indivíduos e existindo outras que também ocorrem.

O problema da Tecnologia

Um dos novos problemas no desenvolvimento do ser humano e da adolescência são as tecnologias, visto que esta está presente desde tenra idade nas vidas dos jovens, através de dispositivos móveis, como telemóveis, tablets e computadores portáteis ou mesmo nos dispositivos eletrónicos imóveis, como computadores e televisões.
Primeiramente, o contacto com ecrãs pixelizados tem efeitos prejudiciais na saúde ocular de crianças jovens, a longo e médio prazos, já que ao focar a visão num ecrã de pequenas dimensões, num espaço de tempo tão longo e tão regularmente, irá existir um aumento da probabilidade do desenvolvimento de doenças visuais, levando crianças à necessidade da utilização de óculos.
A dependência do telemóvel durante a fase da adolescência é agravada, dado que o tempo livre, neste momento da vida, é maior e a solução para o ocupar surge com a utilização do telemóvel. A partir da consciencialização desta complicação é possível perceber a bastante notória diferença entre as crianças e adolescentes de hoje em dia e de antigamente, na medida em que brincar, correr, jogar as escondidas ou ir para a casa dos vizinhos, visto antigamente como algo natural e saudável, é estranhado e, até, condenado no quotidiano.

A tecnologia não só afeta o tempo livre das crianças, como também a sua disponibilidade para aprender, estudar e desenvolver curiosidade pelo mundo que as rodeia. Isto acontece pois estar ligado às redes  online é considerado estar "ligado ao mundo", o que, consequentemente, coloca em segundo plano a necessidade e motivação intrínseca de estudar e aprender algo novo.

Atualmente existem aplicações como o TikTok, que fomentam a atividade online com um simples deslizar de dedos e transmitem a ideia artificial da aquisição de conhecimentos variados, enquanto, na verdade, o conhecimento adquirido por via desta exposição de informação crescente de nada serve para o desenvolvimento do indivíduo, nem para a sua utilização no dia a dia.

Sendo assim, será necessário apelar a uma sensibilização ainda maior para esta atividade extremamente prejudicial e problemática. Se, na verdade, a sociedade der continuidade a este tipo atitudes estaremos a formar uma comunidade cada vez mais dependente e, provavelmente, com maior risco de sedentarismo, que pode levar a problemas físicos, devido a inatividade provocada pelos dispositivos eletrónicos.

A agressividade parental e relação com o Bullying

A violência escolar/bullying reflete, em parte, o clima da sociedade em que a escola se encontra inserida, bem como as famílias que educam os jovens e os ambientes em que estes vivem. Essa mesma violência tem vindo a aumentar, apesar dos esforços de sensibilização aplicados (Nóbrega, 2015). Deste modo, e de acordo com Secco (2014), existe uma associação entre os comportamento de agressão e vitimização com a educação por parte das figuras de autoridade, principalmente os progenitores, aplicada em crianças e/ou jovens.

Os estilos parentais e as caraterísticas da parentalidade assumem consequências nos comportamentos das crianças, existindo uma possível relação entre a família e o bullying. A presença de ambos os progenitores no quotidiano das crianças é um fator essencial para a diminuição da probabilidade de as crianças participarem em comportamentos como bullying, no entanto uma educação mais agressiva reflete exatamente o oposto.

De acordo com uma revisão de literatura, pais de crianças com comportamentos agressivos, demonstraram atitudes menos calorosas, utilizando métodos de educação mais autoritários e uma disciplina mais rígida (Farington, 1993; Idsoe et al., 2008 cit in Rajendran, Kruszewski & Halperin, 2016). Para além disso, um exemplo disto mesmo é o de mães que demonstrem comportamentos agressivos e uma fraca vinculação encontrarem-se associadas a comportamentos de agressão em crianças (Olweus, 1980 cit in Rajendran, Kruszewski & Halperin, 2016). Neste sentido, crianças que apresentam comportamentos agressivos para com outras crianças, possuem, geralmente, pais punitivos e menos tolerantes, uma vez que vivenciam este estilo de aprendizagem com os seus ideais e regras. Assim, é natural que estes jovens sejam mais propícios a aplicar futuramente os mesmos métodos que foram utilizados com eles em outros grupos sociais. 

Deste modo, crianças que praticam bullying, de acordo com alguns autores, tendem a ter famílias conflituosas e agressivas, que tentam educá-las à custa de castigos severos e outras atitudes inapropriadas ao processo de educação, a par de incompreensão perante as necessidades dos filhos. A realidade que as crianças vivenciam irá, inevitavelmente, moldar e influenciar os seus comportamentos para com os outros, podendo, no caso de possuírem um ambiente familiar hostil, desenvolver comportamentos incorretos para com os grupos de pares, prolongando o que vivenciam em casa ao contexto escolar, uma vez que detêm lacunas nas suas capacidades de resolução de problemas, recorrendo à violência que conhecem sempre experienciaram (Baldry & Farrington, 2013; Georgiou & Stavrinides, 2013). Por outro lado, quando uma criança experiencia maltratos e negligências por parte dos progenitores, ao mesmo tempo que sofre de bullying, ocorre  uma diminuição de sentimentos de pertença à sociedade, bem como aumentam as probabilidades de comportamentos e sentimentos depressivos (Sedds, Harkness & Quilty, 2010).

Posto isto, verifica-se que a educação, numa fase inicial da vida de uma criança, e não só, é essencial para uma melhor adaptação à sociedade (escola, amigos e família) e para um desenvolvimento mais rico de um jovem, que, no fim da sua puberdade, tenha ultrapassado estas - e mais algumas - problemáticas, que são características a esta fase (tão estranha) da vida.


Bibliografia e Webgrafia:

CUF, Crescimento e Puberdade. Retirado de https://www.cuf.pt/mais-saude/crescimento-e-puberdade, consultado em 5/5/2024

Gomes, B. M. C. (2019). O impacto dos estilos parentais no comportamento bullying: um estudo em crianças do 1º. Ciclo. Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica e de Aconselhamento, Universidade Autónoma de Lisboa.

Penna, E. M., Ferreira, R. M., Teoldo da Costa, V., Santos, B. S., & Moraes, L. C. C. A. (2012). Relação entre mês de nascimento e estatura de atletas do mundial de futebol sub 17. Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano, 14(5), 571-581. https://doi.org/10.5007/1980-0037.2012v14n5p571

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